sábado, 25 de junho de 2011














O BRASIL EXPLICADO EM GALINHAS
>
> Pegaram o cara em flagrante roubando galinhas de um galinheiro e
> o levaram para a delegacia.
> D - Delegado
> L - Ladrão
> D - Que vida mansa, heim, vagabundo? Roubando galinha para ter
> o que comer sem precisar trabalhar. Vai para a cadeia!
> L - Não era para mim não. Era para vender.
> D - Pior, venda de artigo roubado. Concorrência desleal com o
> comércio estabelecido. Sem-vergonha!
> L - Mas eu vendia mais caro.
> D - Mais caro?
> L - Espalhei o boato que as galinhas do galinheiro eram
> bichadas e as minhas galinhas não. E que as do galinheiro botavam ovos
> brancos enquanto as minhas botavam ovos marrons.
> D - Mas eram as mesmas galinhas, safado.
> L - Os ovos das minhas eu pintava.
> D - Que grande pilantra... (mas já havia um certo respeito no
> tom do delegado...)
> D - Ainda bem que tu vai preso. Se o dono do galinheiro te pega...
> L - Já me pegou. Fiz um acerto com ele. Me comprometi a não
> espalhar mais boato sobre as galinhas dele, e ele se comprometeu a
> aumentar os preços dos produtos dele para ficarem iguais aos meus.
> Convidamos outros donos de galinheiros a entrar no nosso esquema.
> Formamos um oligopólio. Ou, no caso, um ovigopólio..
> D - E o que você faz com o lucro do seu negócio?
> L - Especulo com dólar. Invisto alguma coisa no tráfico de
> drogas. Comprei alguns deputados. Dois ou três ministros. Consegui
> exclusividade no suprimento de galinhas e ovos para programas de
> alimentação do governo e superfaturo os preços.
O delegado mandou pedir um cafezinho para o preso e perguntou
> se a cadeira estava confortável, se ele não queria uma almofada.
> Depois perguntou:
> D - Doutor, não me leve a mal, mas com tudo isso, o senhor não
> está milionário?
L - Trilionário. Sem contar o que eu sonego de Imposto de Renda
> e o que tenho depositado ilegalmente no exterior.
> D - E, com tudo isso, o senhor continua roubando galinhas?
L - Às vezes. Sabe como é.
> D - Não sei não, excelência. Me explique.
> L - É que, em todas essas minhas atividades, eu sinto falta de
> uma coisa. O risco, entende? Daquela sensação de perigo, de estar
> fazendo uma coisa proibida, da iminência do castigo. Só roubando
> galinhas eu me sinto realmente um ladrão, e isso é excitante. Como
> agora fui preso, finalmente vou para a cadeia. É uma experiência nova.
> D - O que é isso, excelência? O senhor não vai ser preso não.
> L - Mas fui pego em flagrante pulando a cerca do galinheiro!
> D - Sim. Mas primário, e com esses antecedentes...
>
> ( Luis Fernando Veríssimo)



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